Mosca-Branca: A Praga Invisível que Enfraquece Lavouras

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Um inseto pequeno, mas devastador

A mosca-branca (Bemisia tabaci) é uma das pragas mais preocupantes da agricultura moderna. Apesar de seu tamanho minúsculo, o impacto que ela causa é gigantesco. Logo este inseto é responsável tanto por danos diretos às plantas quanto pela transmissão de mais de 100 tipos de vírus fitopatogênicos, o que pode comprometer severamente a produtividade de culturas agrícolas como soja, algodão, feijão, hortaliças, uva e até plantas ornamentais.

No Brasil, já ocupa a 8ª posição no ranking de pragas com maior risco fitossanitário, assim afetando mais de 600 espécies vegetais, o que reforça sua importância no manejo integrado de pragas (MIP).

Entendendo a mosca-branca

O que é a mosca-branca?

Apesar do nome, a Bemisia tabaci não é uma espécie única, mas sim um complexo de espécies crípticas — ou seja, grupos geneticamente distintos, mas com aparência visual semelhante. Hoje, esse complexo compreende mais de 40 variantes identificadas no mundo, muitas das quais ocorrem também em território brasileiro.

Esse fator torna o controle ainda mais desafiador, pois diferentes espécies respondem de formas variadas aos métodos de manejo.

Mosca Branca (Bemisia tabaci)

Como reconhecer a mosca-branca?

O inseto passa por diferentes estágios de desenvolvimento:

  • Ovos: São ovais, microscópicos (cerca de 0,2–0,3 mm), com coloração amarelada. Costumam ser depositados na face inferior das folhas, geralmente em forma de arco.
  • Ninfas: O primeiro e segundo ínstar (estágio) são móveis, mas nos estágios seguintes tornam-se imóveis, parecendo pequenas escamas translúcidas.
  • Pseudo-pupa (4º instar): Esse estágio final da ninfa antecede a emergência do adulto. A estrutura parece achatada logo fixada na folha.
  • Adultos: Possuem corpo amarelo-claro e asas cobertas por uma substância branca cerosa. Medem de 1 a 2 mm. Em grandes infestações, levantam voo em forma de “nuvem branca” ao menor toque nas plantas.

Ciclo de vida e reprodução

O ciclo da mosca-branca é altamente influenciado pela temperatura, umidade e tipo de planta hospedeira. Assim o tempo total de desenvolvimento pode variar de 19 a 73 dias. Em condições tropicais, podem ocorrer de 11 a 15 gerações por ano – o que favorece explosões populacionais em pouco tempo.

Além disso, a reprodução pode ser sexuada ou partenogenética (quando as fêmeas se reproduzem sem a presença de machos), o que facilita ainda mais a expansão populacional.

Quais espécies estão no Brasil?

As principais espécies (ou “biótipos”) de mosca-branca encontradas nas lavouras brasileiras são:

  • MEAM1 (Biótipo B): Amplamente distribuído e altamente adaptado a culturas como soja e algodão. É resistente a vários inseticidas e tem alta capacidade de transmissão de vírus.
  • MED (Biótipo Q): Avança principalmente em cultivos protegidos, como estufas com pimentão e tomate. Apresenta resistência mais acentuada a inseticidas.
  • Grupo Novo Mundo: Espécies nativas que coexistem com as invasoras, mas com impacto relativamente menor.

Danos provocados pela praga

Danos diretos

As ninfas e adultos se alimentam da seiva das plantas, causando perda de vigor, redução no crescimento, murchamento e até queda precoce das folhas. As toxinas injetadas durante a alimentação podem desregular funções fisiológicas da planta.

Danos indiretos

A maior ameaça, no entanto, é a transmissão de vírus. A mosca-branca é vetor de importantes fitovírus, como:

  • Vírus do mosaico-dourado no feijão
  • Vírus do mosaico-anão da soja
  • Vírus do mosaico comum do algodão

Além disso, a produção de honeydew (excreção açucarada) cria ambiente para crescimento de fungos como a fumagina, que recobre as folhas e reduz drasticamente a fotossíntese da planta.

Como monitorar a presença da mosca-branca?

O monitoramento é peça-chave no controle preventivo:

  • Faça inspeções visuais periódicas na parte inferior das folhas, onde a praga costuma se concentrar.
  • Utilize armadilhas adesivas amarelas — que atraem os adultos e ajudam a detectar infestações iniciais.
  • Avalie ovos, ninfas e adultos durante diferentes fases da cultura.

O ideal é iniciar o controle logo nos primeiros focos detectados, antes da população atingir níveis altos.

Estratégias de controle e manejo

Controle e manejo cultural (prevenção na base)

  • Eliminação de plantas daninhas hospedeiras
  • Barreiras vivas com plantas não hospedeiras nas bordas da lavoura
  • Vazio sanitário entre safras
  • Uso de cultivares resistentes
  • Remoção manual de plantas infectadas por vírus

Controles biológico (aliados naturais)

  • Joaninhas, percevejos (Orius spp.), ácaros predadores e outros inimigos naturais
  • Fungos entomopatogênicos como Beauveria bassiana, Isaria fumosorosea e Cordyceps javanica
  • Parasitóides do gênero Encarsia: colocam seus ovos nas ninfas da mosca-branca, interrompendo o ciclo do inseto

Controle químico (com responsabilidade)

Apesar de amplamente utilizado, o controle químico enfrenta problemas de resistência. Por isso, é necessário:

  • Fazer rotação de princípios ativos (evitando repetir o mesmo mecanismo de ação)
  • Utilizar misturas e combinações mais eficazes, como:
    • Espiropidiona + Acetamiprido
    • Piriproxifem + Acetamiprido
    • Abamectina
    • Ciantraniliprole
    • Dinotefuram
    • Imidacloprido (em áreas ainda responsivas)

Sempre siga as recomendações técnicas do engenheiro agrônomo e evite o uso indiscriminado para não acelerar a seleção de resistência.

Controle exige estratégia e constância

A mosca-branca é uma praga extremamente versátil, discreta e eficiente em causar prejuízos. O sucesso no seu controle depende de uma estratégia integrada, que começa com o monitoramento precoce, passa por boas práticas culturais e biológicas, e utiliza defensivos de forma inteligente e planejada.

Com um manejo consciente, é possível reduzir perdas, preservar a rentabilidade da lavoura e proteger o meio ambiente.


Referência:

DE MORAES, L. A. et al. Distribution and phylogenetics of whiteflies and their endosymbiont relationships after the Mediterranean species invasion in Brazil. Scientific reports, v. 8, n. 1, p. 14589, 2018. DOI: 10.1038/s41598-018-32913-1.

escrito por: Kaoê Rauch-equipe ConectaGrão

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