Nos últimos 10 anos, o Brasil mais que dobrou o consumo de herbicidas. Em 2010, o país utilizava cerca de 157 mil toneladas; em 2020, esse número saltou para quase 330 mil — ou seja, um aumento de 128%. Esse crescimento acentuado está diretamente ligado ao avanço da resistência de plantas daninhas ao glifosato, o herbicida mais utilizado nas lavouras brasileiras.
Quadro atual
Atualmente, já são 20 casos registrados de resistência ao glifosato, envolvendo 12 espécies como capim-amargoso, buva, caruru e capim-pé-de-galinha. Em razão disso, os produtores têm adotado estratégias como o aumento das doses, uso de herbicidas múltiplos ou aplicações sequenciais. Consequentemente, os custos de produção aumentam e o impacto ambiental também se intensifica.

Repercussões econômicas e ambientais
Como resultado do uso intensivo, o custo por aplicação cresceu substancialmente. Além disso, a dependência de herbicidas está gerando uma maior pressão química sobre os agroecossistemas brasileiros. Paralelamente, cresce a preocupação de consumidores europeus e de organizações ambientalistas, principalmente em relação aos efeitos nocivos dos defensivos e ao uso excessivo em biomas sensíveis como Amazônia e Cerrado.
Estratégias e alternativas
Diante desse cenário desafiador, diversas medidas vêm sendo adotadas no campo. Em primeiro lugar, destaca-se a diversificação química. O uso de substâncias como glufosinato, diclosulam, flumioxazina, cletodim, triclopir e 2,4-D apresentou crescimento expressivo nos últimos anos. Essa mudança, embora positiva, demanda maior conhecimento técnico por parte dos agricultores.
Em segundo lugar, o uso de herbicidas residuais e pré-emergentes tornou-se uma estratégia eficiente, pois oferece controle mais estratégico das plantas daninhas e reduz a pressão sobre o glifosato. Além disso, bioherbicidas e métodos físicos — como laser, vapor e descargas elétricas — estão em fase de pesquisa. No entanto, essas tecnologias ainda não estão disponíveis em larga escala, o que mantém a dependência dos produtos químicos.
Outra abordagem fundamental é o manejo integrado de plantas daninhas. Por meio da rotação de herbicidas, uso de pré-emergentes, certificação de boas práticas e capacitação contínua, é possível retardar a evolução da resistência e promover um uso mais racional dos insumos.

Por fim, a inovação tecnológica tem papel essencial. Pulverizadores com sensores para aplicação localizada e formulações nanoencapsuladas, por exemplo, otimizam o uso dos produtos e reduzem a quantidade necessária por hectare.
Tendências globais e regulamentação
No cenário mundial, o mercado de glifosato é estimado em bilhões de dólares, com previsão de crescimento contínuo até 2033. A América Latina, liderada pelo Brasil, representa cerca de 50% dessa demanda. Entretanto, em regiões como a Europa, as restrições ao uso do glifosato vêm aumentando, o que tem impulsionado o desenvolvimento de alternativas mais sustentáveis.
Impactos à saúde e ao meio ambiente
A despeito das controvérsias, o glifosato ainda é liberado em diversas regiões. No entanto, estudos indicam que ele pode ser “provavelmente cancerígeno”, além de contribuir para a contaminação de águas subterrâneas, solos e fauna. Em vista disso, cresce a exigência por práticas agrícolas que respeitem os limites do ambiente e da saúde humana.
Conclusão
O Brasil enfrenta um momento decisivo em sua agricultura. O modelo atual, baseado no uso intensivo de herbicidas químicos, mostra sinais claros de esgotamento: custos elevados, surgimento de novas resistências e riscos ambientais crescentes. Portanto, é urgente adotar medidas que combinem:
E, sobretudo, inovação tecnológica, com foco em reduzir a carga química sem comprometer a produtividade.
Políticas públicas eficazes, com incentivo à pesquisa e à regulamentação de novos produtos;
Capacitação técnica contínua, garantindo que os produtores utilizem os herbicidas de forma consciente;
REFERÊNCIAS
AGRO2. Uso de herbicidas dispara no Brasil com avanço da resistência ao glifosato. Agro2, 2024. Disponível em: https://agro2.com.br/agricultura/uso-de-herbicidas-dispara-no-brasil-com-avanco-da-resistencia-ao-glifosato/. Acesso em: 21 jul. 2025.
EMBRAPA. Estudo revela que o uso de herbicidas no Brasil cresceu 128% entre 2010 e 2020. Embrapa, 2021. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/101797650/estudo-revela-que-o-uso-de-herbicidas-no-brasil-cresceu-128-entre-2010-e-2020. Acesso em: 21 jul. 2025.
SBA1. Estudo revela que o uso de herbicidas no Brasil cresceu 128% entre 2010 e 2020. SBA1, 2021. Disponível em: https://sba1.com/noticias/noticia/43251/Estudo-revela-que-o-uso-de-herbicidas-no-Brasil-cresceu-128-entre-2010-e-2020. Acesso em: 21 jul. 2025.
REVISTA CULTIVAR. Resistência ao glifosato redesenha o mercado de herbicidas no Brasil. Revista Cultivar, 2023. Disponível em: https://revistacultivar.com.br/noticias/resistencia-ao-glifosato-redesenha-o-mercado-de-herbicidas-no-brasil. Acesso em: 21 jul. 2025.
SUMITOMO CHEMICAL. Como evitar a resistência de plantas daninhas aos herbicidas. Sumitomo Chemical Brasil, 2022. Disponível em: https://www.sumitomochemical.com.br/artigos/resistencia-plantas-daninhas/. Acesso em: 21 jul. 2025.
Escrito por: Kaoê Rauch – equipe ConectaGrão

Kaoe Rauch é técnico agrícola e fundador da ConectaGrão. Com experiência prática no campo e forte conexão com o agro, escreve conteúdos que unem vivência rural, conhecimento técnico e olhar de mercado, sempre com o objetivo de aproximar produtores da informação que realmente importa.