Como o tarifaço dos EUA ameaça o agronegócio brasileiro?

Blog Visão de Mercado

Nos últimos anos, o agronegócio brasileiro enfrentou diversos desafios externos. No entanto, agora, a pressão se intensifica com o novo “tarifaço” dos EUA (Estados Unidos), que entrará em vigor a partir de 1º de agosto de 2025. Essa medida pode elevar tarifas de 10% para até 50%, afetando diretamente exportações como carne bovina, suco de laranja, café e frutas frescas. Assim, o setor agropecuário corre risco de perdas bilionárias e de uma nova onda de recuperações judiciais. Neste artigo, você vai entender os efeitos econômicos, os riscos jurídicos e as soluções possíveis para enfrentar esse cenário adverso.

Impactos diretos no agronegócio brasileiro

1. Setores mais atingidos

Antes de tudo, é importante destacar quais são os segmentos mais vulneráveis às novas tarifas. Entre eles, destacam-se:

  • Carne bovina, cujas exportações para os EUA representam um dos principais pilares do mercado externo;
  • Café e suco de laranja, produtos nos quais o Brasil ocupa posições de liderança global;
  • Frutas frescas, como manga, limão e cítricos, que já estão em rota de exportação, tornando difícil o redirecionamento logístico.

Portanto, caso as tarifas entrem em vigor conforme anunciado, a competitividade desses produtos no mercado americano será drasticamente reduzida.

2. Consequências econômicas e sociais

Além disso, os efeitos se espalham de forma preocupante. Conforme estimativas da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), as exportações brasileiras do setor agro para os EUA podem cair pela metade, passando de US$ 12,1 bilhões para cerca de US$ 6 bilhões.

Como resultado, estados que dependem fortemente desse comércio exterior — como São Paulo, Paraná, Espírito Santo, Paraíba e Ceará — podem acumular perdas que ultrapassam R$ 19 bilhões. Além disso, há risco de desemprego no campo e colapso em cadeias produtivas inteiras

Aumento de recuperações judiciais e riscos jurídicos

O que dizem os especialistas?

Segundo a Serasa Experian, só no primeiro trimestre de 2025 já foram registrados mais de 400 pedidos de recuperação judicial no setor rural, representando um aumento de 21,5% em relação ao trimestre anterior. A tendência, infelizmente, é de alta.

De acordo com os especialistas Cybelle Guedes Campos e Odair de Moraes Junior, o cenário atual se configura como uma crise externa imprevisível. Portanto, produtores e empresas podem recorrer à recuperação judicial, desde que comprovem a origem exógena da crise e demonstrem boa-fé na gestão anterior.

Setor por setor: veja os prejuízos previstos

Carne bovina

Sem dúvida, esse é o setor mais exposto. Estima-se que a nova tarifa possa causar perdas superiores a US$ 1 bilhão em exportações. Isso porque, apenas no primeiro semestre de 2025, o Brasil já exportou 181 mil toneladas de carne bovina para os EUA, com alta de mais de 100% em comparação ao mesmo período do ano passado.

Se, por um lado, a demanda americana permanece aquecida, por outro, o aumento nas tarifas poderá inviabilizar financeiramente esses contratos.

Café

Além da carne, o café também está sob ameaça. Atualmente, o Brasil é responsável por cerca de 30% do café consumido nos EUA. Mesmo que outros fornecedores, como Vietnã e Colômbia, possam tentar suprir a demanda, a substituição será limitada — especialmente no curto prazo. Como consequência, o preço interno pode sofrer oscilações e o faturamento cair.

Suco de laranja

No caso do suco de laranja, a situação é igualmente grave. O Brasil responde por mais de 60% do suco importado pelos EUA, com faturamento superior a US$ 1,3 bilhão em 2024. Contudo, com a tarifa de 50%, o produto brasileiro perderá competitividade frente a outros fornecedores, pressionando margens e retraindo vendas.

Frutas frescas

Por fim, frutas como manga, limão e laranja enfrentam um dilema logístico. Muitos contratos de exportação já estão firmados, com embarques programados para os próximos meses. Dessa forma, não há tempo hábil para redirecionar a produção ou renegociar destinos, o que pode resultar em perdas significativas para pequenos e médios produtores.

Estratégias recomendadas para o agro evitar o colapso

1. Ações jurídicas e gestão de risco

Para enfrentar esse cenário, é crucial agir estrategicamente. Entre as recomendações, estão:

  • Avaliar a possibilidade de ingressar com pedido de recuperação judicial preventiva, se houver risco real de inadimplência;
  • Renegociar contratos com fornecedores e bancos, buscando prazos mais flexíveis;
  • Adotar consultoria especializada para reestruturação de dívidas e mitigação de riscos jurídicos.

Além disso, é fundamental manter transparência na comunicação com stakeholders e adotar uma postura de gestão responsável, mesmo em meio à crise.

2. Diversificação de mercados e parcerias

Além da resposta jurídica, é necessário buscar alternativas comerciais. O governo federal e entidades do setor já trabalham na abertura de novos mercados, incluindo Japão, Vietnã, México, Oriente Médio e Coreia do Sul.

Da mesma forma, há um esforço coordenado para habilitar mais frigoríficos e processadoras a exportar para regiões com menor risco tarifário. Se bem executadas, essas estratégias podem reduzir a dependência dos EUA e aumentar a resiliência do agro brasileiro.

Em resumo, o “tarifaço” americano representa um dos maiores desafios externos recentes para o agronegócio do Brasil. O impacto econômico é expressivo, os riscos jurídicos são reais e a margem para erro é pequena. Contudo, com planejamento, ação coordenada e busca por novos mercados, o setor pode transformar essa crise em oportunidade.

Agora, mais do que nunca, é hora de inovar, negociar e proteger o coração da economia brasileira: o agro.


Referências

  • Agrolink: Setor agrícola sente impacto de tarifaço americano, Leonardo Gottems CNN Brasil+10Agrolink+10MUSSICOM+10
  • CNN Brasil: Tarifas dos EUA e ação de governo federal para redirecionamento de exportações CNN Brasil
  • Ciana/faep e CNA: projeções de perdas em estados brasileiros e exportações MINUTO MTCNA
  • Reuters: estimativa de US$ 1 bilhão de perdas na carne bovina CNN Brasil+2Reuters+2Exame+2
  • Exame: impacto da tarifa sobre café, carne e suco de laranja nos EUA

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