A Spodoptera frugiperda, popularmente chamada de lagarta-do-cartucho, está entre as pragas mais destrutivas da agricultura brasileira. Devido à sua ampla distribuição geográfica e alta capacidade de adaptação, ela causa perdas bilionárias, especialmente nas lavouras de milho. Além disso, a praga também atinge culturas como soja, sorgo e algodão, ampliando seus impactos sobre o setor agrícola.
Contudo, nas últimas safras, um novo obstáculo tem se destacado: a crescente resistência da Spodoptera frugiperda a inseticidas químicos e às proteínas Bt presentes em cultivares transgênicos. Este fenômeno tem tornado o manejo da praga cada vez mais complexo e dispendioso.

Entendendo a resistência
De modo geral, a resistência ocorre quando indivíduos da população da praga sobrevivem repetidamente a aplicações de inseticidas ou ao consumo de plantas transgênicas. Como consequência, essas lagartas se reproduzem, disseminando genes resistentes e tornando o controle menos eficaz com o passar do tempo.
Atualmente, já foram detectadas populações da Spodoptera frugiperda resistentes a:
- Inseticidas químicos, como lambda-cialotrina, clorantraniliprole e espinetoram;
- Proteínas Bt, como Cry1F e Cry1Ab, amplamente utilizadas no milho Bt.
Portanto, quanto mais se utiliza essas ferramentas de forma contínua e sem alternância de mecanismos de ação, mais rapidamente a resistência se desenvolve.
Como isso acontece?
Em primeiro lugar, o uso repetitivo de produtos com o mesmo modo de ação favorece a seleção natural de indivíduos resistentes. Em segundo lugar, a ausência de práticas complementares, como o refúgio estruturado em lavouras Bt, agrava ainda mais o problema.
Ou seja, ao não manter áreas com plantas convencionais (milho não-Bt), o produtor impede a diluição dos genes resistentes, contribuindo para a perda de eficácia das tecnologias disponíveis.
Além disso, o plantio contínuo da mesma cultura sem rotação contribui para a pressão seletiva sobre a população da Spodoptera frugiperda, tornando o ambiente mais favorável à sua multiplicação.
Impactos no campo
Como resultado desse avanço da resistência, os produtores enfrentam custos operacionais elevados, aumento do número de pulverizações e, consequentemente, maior risco de contaminação ambiental. Ademais, o uso excessivo de químicos desequilibra o ecossistema, afetando inimigos naturais da praga, como parasitoides e predadores benéficos.
Isso compromete não apenas a saúde do solo e da fauna auxiliar, mas também a sustentabilidade da produção a médio e longo prazo.
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Soluções: o Manejo Integrado é essencial
Diante desse cenário, o Manejo Integrado de Pragas (MIP) surge como o caminho mais eficaz e sustentável. Em vez de depender exclusivamente de defensivos químicos ou biotecnologias isoladas, o MIP propõe um conjunto de práticas complementares, com base no monitoramento e na tomada de decisão técnica.
1. Monitoramento constante
Antes de qualquer intervenção, é fundamental conhecer o nível de infestação da lavoura. O uso de armadilhas e amostragens sistemáticas permite identificar precocemente a presença da Spodoptera frugiperda, possibilitando a adoção de medidas no momento mais adequado.
2. Rotação de inseticidas
Além disso, a alternância de princípios ativos com modos de ação diferentes evita que a praga desenvolva resistência rapidamente. Essa estratégia deve ser aplicada com rigor, seguindo as recomendações agronômicas e respeitando os intervalos entre aplicações.
3. Preservação de inimigos naturais
Outro ponto fundamental é a manutenção do equilíbrio biológico. Para isso, deve-se evitar pulverizações desnecessárias e priorizar produtos seletivos, que preservem organismos benéficos ao controle natural da Spodoptera frugiperda.
4. Refúgio estruturado nas lavouras Bt
A implantação do refúgio — ao menos 10% da área plantada com milho convencional — é essencial para reduzir a pressão de seleção. Portanto, essa prática deve ser tratada como parte integrante do sistema produtivo e não como uma recomendação opcional.
5. Cultivares Bt com múltiplas proteínas
Atualmente, o uso de híbridos com empilhamento de proteínas Bt, como Vip3Aa, oferece maior eficácia e contribui para retardar o desenvolvimento da resistência. No entanto, sua eficiência também depende do uso combinado com as outras práticas citadas.
Conclusão
Diante de todos esses fatores, é evidente que o desafio não está apenas na praga, mas sim na forma como ela vem sendo manejada. A resistência da Spodoptera frugiperda é um alerta claro: mais aplicações não resolvem — o que resolve é aplicar com inteligência.
Portanto, investir em capacitação técnica, planejamento e práticas sustentáveis deixou de ser uma escolha e passou a ser uma exigência. Afinal, a produtividade da lavoura e a durabilidade das tecnologias agrícolas dependem diretamente de estratégias bem conduzidas, coordenadas e responsáveis.
Referências :
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda). Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sanidade-vegetal/pragas/quarentenarias/spodoptera-frugiperda. Acesso em: 21 jul. 2025.
COSTA, E. N. et al. Manejo da lagarta-do-cartucho na cultura do milho. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, 2019. 24 p. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1111111. Acesso em: 21 jul. 2025.
SALVADORI, J. R. et al. Pragas da cultura do milho: identificação e controle. Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2016. 60 p.
Escrito por: Kaoê Rauch – equipe ConectaGrão

Kaoe Rauch é técnico agrícola e fundador da ConectaGrão. Com experiência prática no campo e forte conexão com o agro, escreve conteúdos que unem vivência rural, conhecimento técnico e olhar de mercado, sempre com o objetivo de aproximar produtores da informação que realmente importa.